Participante do 1° Prêmio Déa Fenelon.
Em 2019, a coordenadora do ensino médio/integrado do Instituto Federal de Ilha Solteira-SP, Priscila Adriana Rossi, propôs um desafio aos professores: desenvolver suas disciplinas de maneira interdisciplinar. Em resposta, o professor de história Marcos da Cruz Alves Siqueira optou por explorar a temática "história e cultura afro-brasileira e africana" por meio de arte, literatura e história. Antes de iniciar as aulas, o professor investigou como essas questões eram tratadas na instituição por meio de documentos oficiais, livros didáticos e planos de ensino. Ele descobriu a ausência do Plano Político Pedagógico (PPP) na instituição e a não participação no Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), resultando na falta de conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira e africana nos materiais didáticos.
Buscando entender o conhecimento prévio dos alunos, o professor perguntou o que sabiam sobre a história e cultura africana e afro-brasileira. Os alunos revelaram que conheciam apenas a comemoração do 20 de novembro e algumas palestras sobre racismo. Com essas informações, o professor elaborou uma atividade interdisciplinar que envolvia pesquisa documental, instalação de arte, literatura e conhecimentos históricos.
A prática pedagógica começou com a apresentação da temática em sala de aula. Os alunos foram divididos em grupos de cinco e receberam materiais bibliográficos sobre cinco orixás diferentes, incluindo "Mitologia dos Orixás" de Reginaldo Prandi e "Conhecendo os Orixás: De Exu a Oxalá" de Waldete Tristão. Os grupos deveriam estudar as histórias dos orixás e realizar fichamentos dos textos. Nas aulas seguintes, os alunos debateram as dúvidas encontradas nos textos.
Após um mês de discussões, os alunos realizaram uma pesquisa documental sobre o PPP da instituição, os planos de ensino e os livros didáticos, escrevendo um trabalho conforme o roteiro disponibilizado em sala. Eles ficaram surpresos ao descobrir que o PPP não existia e que os materiais didáticos não abordavam suficientemente a história afro-brasileira e africana. Em resposta, o professor lançou um novo desafio: apresentar as mitologias dos orixás para a comunidade externa.
Os alunos aceitaram o desafio. Com a colaboração do Núcleo Afro-brasileiro e Indígena de Ilha Solteira (NABISA), composto por professores e alunos da Universidade Paulista (UNESP), organizaram uma exposição de arte chamada "Kàsà: conhecendo os orixás" com ilustrações de Bruno Müller.
Assim, nasceu a prática pedagógica "Kàsà: conhecendo a história afro-brasileira e africana por meio da mitologia dos orixás e aulas públicas". Os alunos elaboraram planos de apresentação e um cronograma para organizar a exposição, preparar as aulas e apresentá-las à comunidade. A exposição foi aberta ao público na recepção do instituto e gerou frutos significativos. Alguns alunos publicaram resumos e ministraram minicursos no 5º Seminário sobre Currículo, Cultura e Identidade (SECCULTI).
A prática pedagógica destacou a importância de discutir e dialogar sobre questões afro-brasileiras e africanas com a comunidade externa, alunos e professores. Envolvidos na construção do currículo escolar, ensino e produção do conhecimento, esses atores participam do processo de ensino-aprendizagem, contribuindo para a constituição dos sujeitos.
PDF para o trabalho completo aqui.
Prof. Marcos da Cruz Alves Siqueira 135ay
Coordenador-Adjuto dos Cursos de Economia Solidária - Docente Efetivo - Historiador. Pedagogo. Especialista em Educação. Mestre em Ensino. Doutor em Educação. Pós-doutorado nas áreas de Antropologia, Educação, Gênero, Sexualidade e Movimento LGBTQIA+. Pesquisador nos núcleos: Núcleo sobre Gênero e Sexualidade - NUGS | Núcleo Afrobrasileiro e Indígena - NEABI | Grupo de Pesquisa HumanidArtes | Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Avançadas em Currículo - NIPAC - áreas de interesse: narrativas, corpo, gênero e sexualidade
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