Participante do 3° Prêmio Déa Fenelon.
O projeto de ensino “Baquaqua – Protagonista da Liberdade” teve como eixo norteador a única autobiografia conhecida de um escravizado que ou pelo Brasil: Mahommah Gardo Baquaqua. Escrito em Ontário com a ajuda do pastor abolicionista irlandês Samuel Downing Moore, o relato foi publicado em 1854. O livro narra a trajetória de Baquaqua na África Ocidental, seu sequestro, escravização e conquista da liberdade, resultando em uma narrativa marcante sobre seus deslocamentos pelo Atlântico – ando por Benin, Brasil, Estados Unidos, Haiti, Canadá e Inglaterra.
Executado entre 2021 e 2024, o projeto surgiu a partir da reformulação do currículo de História do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e foi aplicado nos campi Nova Suíça, Nova Gameleira, Timóteo e Curvelo. Nos dois primeiros, foi coordenado pelos professores Isis Castro e James Goodwin Jr.; no campus Timóteo, pela professora Julia Junqueira; e em Curvelo, pelo professor Gustavo Barbosa. Cada campus teve autonomia para adaptar a execução à realidade local, explorando possibilidades inter e transdisciplinares, além de desenvolver metodologias e objetivos específicos, conforme as demandas das equipes docentes envolvidas.
A proposta didática do projeto buscou equilibrar a singularidade da trajetória e da fonte histórica selecionada com a abordagem da escravidão e do racismo estrutural. Sua aplicação se estruturou em três eixos principais: a) explorar as viagens de Baquaqua pelo Atlântico como elemento central da experiência didática, relacionando suas vivências às questões raciais do ado e do presente; b) estabelecer conexões entre a trajetória individual de Baquaqua e as experiências de outras pessoas escravizadas no século XIX, especialmente no Brasil; c) utilizar a narrativa em primeira pessoa como ferramenta para o processo de ensino-aprendizagem, favorecendo a identificação dos estudantes com o sujeito histórico e promovendo uma compreensão mais profunda dos eventos relatados por meio da empatia. Desses objetivos foram construídas uma série de ações didáticas aplicadas nos estudantes da 2ª série dos cursos técnicos integrados da Educação Profissional Técnica de Nível Médio (EPTNM) da instituição.
A partir da força de seu testemunho, a história de Baquaqua se destaca como um recurso didático poderoso para o Ensino de História, pois permite compreender os trânsitos atlânticos não apenas como rotas de exploração e violência, mas também como caminhos de resistência e liberdade. Permitindo, assim, que os estudantes compreendessem a escravidão atlântica a partir da perspectiva de um sujeito histórico e refletissem criticamente sobre as permanências do racismo estrutural na sociedade contemporânea.
PDF para o trabalho completo aqui.
Artigo publicado sobre o projeto: https://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/16423
Profa. Isis Pimentel de Castro 725bi
Professora de História no ensino básico, superior e de pós-graduação do CEFET-MG desde 2010. Interessa-se pelas relações entre as narrativas sobre o ado, seja na arte ou na educação, e, a disciplina História. Da graduação ao doutorado, sua pesquisa acadêmica se erigiu em torno do ensino, produção e exibição do gênero pintura histórica, em especial das telas de Pedro Américo e Victor Meirelles. Nos últimos anos, tem se dedicado à pesquisa sobre o Ensino de História, com foco no consumo de conteúdos de natureza histórica por estudantes do ensino básico e na elaboração de projetos de ensino que integrem biografias e educação étnico-racial.