
Em tempos de intensos ataques à liberdade acadêmica e à expressão crítica nas universidades, o GT Nacional de Gênero da ANPUH se manifesta em defesa total e irrestrita à liberdade e ao direito ao dissenso como pilares essenciais para a construção de uma sociedade democrática. O GT Nacional de Gênero têm sido, desde sua criação, um espaço de saber e resistência, e ao longo de décadas, fundamental para a defesa da pluralidade e da liberdade acadêmica, especialmente em momentos de tentativas explícitas de cerceamento. Como parte da comunidade acadêmica, defendemos a relevância histórica dessas instituições para o Brasil, as universidades e a democracia. 71111l
Desde 1961, a ANPUH promove o avanço da pesquisa em História, reunindo historiador(a)es, estudantes, professor(a)es e pesquisador(a)es em eventos como os Encontros Nacionais de História. Esse trabalho não só fortalece a pesquisa como também preserva o direito ao debate e à expressão, colaborando para que o conhecimento histórico não seja instrumentalizado por interesses políticos. O papel da ANPUH é assegurar uma cidadania crítica, contribuindo para que o ado seja entendido em suas complexidades, e não manipulado.
O GT Nacional de Gênero, fundado em 2001, responde diretamente à necessidade de visibilizar e estudar temas historicamente marginalizados, como relações de poder, opressão e desigualdades de gênero. Com 18 sessões regionais, o GT tornou-se uma referência nacional e internacional, impulsionando a produção de conhecimento crítico e promovendo espaços de acolhimento e escuta para todas as diversidades e subjetividades. Publicações, eventos e parcerias com outras instituições fortalecem a construção de uma sociedade mais igualitária e justa.
Como lembra Jacques Rancière, a democracia se sustenta no dissenso, na convivência de diferentes visões e na contestação do que é estabelecido. A ANPUH e o GT Nacional de Gênero buscam garantir que a universidade seja esse espaço de liberdade e questionamento, onde questionar o status quo é um direito e um dever acadêmico. Em uma sociedade onde o consenso muitas vezes disfarça a censura, vivemos hoje a ameaça de uma pseudo-democracia que marginaliza vozes e corpos divergentes, especialmente aqueles que desafiam normas tradicionais de poder e gênero.
O GT Nacional de Gênero atua na construção de um conhecimento que amplia o entendimento da História, e tem impactos diretos no presente, orientando políticas públicas e ajudando a combater as desigualdades e violências de gênero. Em um país com altos índices de violência contra mulheres e pessoas LGBTQIA+, além de profundas desigualdades raciais e de gênero, essas pesquisas são essenciais para a promoção da equidade, de políticas públicas, leis e de justiça social. Nossa atuação acadêmica sólida e respaldada por critérios de pesquisa consolidados e reconhecidos, tem evidenciado temas políticos, como transfobia, homofobia, sexismo, assédio sexual nas universidades e violência política de gênero, com avanços importantes na construção de políticas de equidade em diversas frentes de atuação e impacto social tanto no Brasil quanto no exterior. Entretanto, também enfrentamos reações de resistência que buscam deslegitimar nossas pesquisas e suas autoras e autores, particularmente quando essas vozes ocupam posições de poder.
Michel Foucault nos lembra que o poder não apenas pune, mas molda comportamentos e define o que é aceitável. Na academia, essa vigilância pode facilmente se transformar em censura, impondo normas rígidas sobre o que pode ser debatido e pesquisado.
Relações de poder que se reconfiguraram, nos últimos anos, com a entrada significativa de mulheres, muitas das quais negras, nos espaços acadêmicos e representativos da nossa categoria. A ANPUH, historicamente respeitada, há pouco teve o seu posicionamento colocado em xeque. As contestações fazem parte do processo democrático, mas a desqualificação seria assim tão desrespeitosa caso não estivéssemos sob a istração de uma mulher lésbica, negra e docente de uma universidade nordestina?
Nossa presidenta, intelectual de excelência, internacionalmente reconhecida, tem gerido as diversas demandas cotidianas de nossa organização, como as lutas pelo ensino de história e por novos espaços profissionais, bem como vem articulando, coletivamente, outros debates dentro da ANPUH, com as diretorias de Equidade, Diversidade de Gênero e Pautas LGBTQIAPN+ e a de Relações Etnicorraciais e Pautas Antirracistas. Deixamos explicitado que o descontentamento de muitos a mais pela tentativa de nos desqualificar enquanto produtoras/es de saberes e menos por argumentos críticos e democráticos em si, ou pela real preocupação com nossas universidades. Sueli Carneiro, ainda em 2005, ao analisar as dimensões de gênero e raça, discorre sobre a violência sofrida pelas mulheres. A Intelectual pontua o árduo percurso não apenas para chegar como docentes às universidades, mas também, para terem seu saber-fazer-sentir reconhecido. Não calaremos ante aqueles que não reconhecem a diversidade e não abrem mão do status de únicos produtores de conhecimentos.
Infelizmente, temos testemunhado situações como sindicâncias contra organizadores de eventos, suspensão de grupos de pesquisa e proibição de eventos futuros — uma repressão que impõe um clima de medo e controle. A exigência de autorização prévia de órgãos sobrecarregados e a ausência de especialistas nas temáticas de gênero institucionalizam um mecanismo censor que fere a autonomia dos pesquisadores e a liberdade de cátedra nas universidades.
O GT de Gênero expressa profunda preocupação com essa onda de repressão atuante em diversas formas e expressões em nosso país contra o campo dos Estudos de Gênero, que ameaça discussões fundamentais sobre direitos humanos e representações sobre equidade e justiça social.
A burocratização e a exigência de autorização prévia de órgãos notoriamente sobrecarregados e com poucos ou nenhum especialista nas temáticas de gênero para a realização de eventos apenas institucionalizam um mecanismo censor, interferindo diretamente na autonomia dos pesquisadores e no compromisso histórico das universidades com a liberdade de ensino, pesquisa e extensão.
O avanço dessas políticas antidemocráticas também é notado nas tentativas de alguns setores de criar mecanismos regulatórios e de monitoramento, panópticos de controle de estudos de gênero, propostas que se apresentam como supervisão e instrumentos de censura e deslegitimação desses temas.
O GT Nacional de Gênero da ANPUH defende a construção coletiva do conhecimento e o respeito à pluralidade. Atuamos para garantir que o campo da História seja um espaço de inclusão, onde vozes diversas sejam ouvidas e respeitadas. A Anpuh e o GT de Gênero têm sido, por mais de duas décadas, um farol para a liberdade de ideias, respeitando os lugares de fala e as subjetividades de todas as pessoas indiscriminadamente. Acreditamos que juízos de valor preconceituosos são prejudiciais à construção intelectual e que qualquer tentativa de limitar a autonomia acadêmica coloca em risco a missão da universidade de formar cidadãos críticos e pensadora(e)s criativa(o)s.
Reafirmamos o compromisso do GT Nacional de Gênero e da ANPUH com a construção de um espaço democrático e plural. Repudiamos qualquer política de censura ou vigilância que limite os temas de gênero, direitos humanos e inclusão. A autonomia universitária, conquistada com décadas de luta contra a repressão, deve ser respeitada como um princípio democrático. A universidade é um lugar de dissenso, onde o confronto de ideias e a provocação são necessários ao avanço do conhecimento. Nos perguntamos: "Quem vigia os vigilantes?" A fiscalização centralizada do que pode ou não ser dito na universidade pode facilmente se converter em censura, comprometendo a missão da universidade de ser um espaço plural de saberes, conhecimentos e formação crítica.
Em nome da liberdade acadêmica e da diversidade de expressões, a ANPUH e o GT Nacional de Gênero defendem a construção coletiva do conhecimento e o respeito à pluralidade. O GT de Gênero se compromete a manter o campo da História um espaço inclusivo, onde vozes diversas possam ser ouvidas e respeitadas. Juízos de valor preconceituosos são prejudiciais ao crescimento intelectual, e qualquer tentativa de limitar a autonomia acadêmica ameaça o compromisso da universidade com a formação de uma cidadania crítica.
Manifestamos também nosso apoio ir à Presidente Ana Maria Veiga e à sua gestão, eleita democraticamente, na ANPUH. Conclamamos a comunidade acadêmica e os defensores da democracia a reconhecer a importância de nossas pesquisas e nosso trabalho. A defesa do GT Nacional de Gênero e da ANPUH é a defesa da liberdade acadêmica e da democracia em suas formas mais autênticas. Reafirmamos nosso compromisso com uma História que contribui para um presente e um futuro mais livres, justos e inclusivos.
GT Nacional de Gênero – ANPUH
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