POR UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA E DIVERSA 4e616s

Considerando a interpelação à qual a ANPUH e, particularmente, a Diretoria de Equidade, Diversidade de Gênero e Pautas LGBTQIAPN+ foram submetidas, por parte de alguns dos seus associados, referente a uma tomada de posição diante da participação de Tertuliana Lustosa, e sua performance, na mesa intitulada “Dissidências de Gênero”, composta por pessoas trans, realizada no último dia 18 de outubro na Universidade Federal do Maranhão (UFMA); 5v48m

Considerando que todas as instituições possuem seus componentes éticos cujos elementos morais, por vezes se chocam, principalmente diante da complexidade do momento histórico atual, em que há árduas lutas pela ampliação das qualificações de cidadania;

Considerando a universidade pública como um espaço incontornável de formação e constituição de cidadania, de maneira irrestrita, abarcando sujeitos, pesquisas e projetos dos mais diversos;

Considerando os esforços de formação, qualificação de cientistas e trabalhos internos visando à sua abertura a parcelas mais amplas da sociedade, do espaço universitário público brasileiro;

Considerando o repúdio a quaisquer esforços que tentem enfraquecer o seu caráter democrático e republicano, como casa sólida de formação de cientistas e profissionais;

Considerando que não é papel desta instituição arbitrar sobre regras de decoro, sejam elas morais ou institucionais;

Considerando que, dado o caráter histórico e, por isso mesmo, mutável e político da própria História, não cabe à AHPUH, sobretudo pelas diversidade (teórica, metodólogica, de classe, gênero, raça, regional, geracional e outras) que lhe é característica, definir pedagogias legítimas/ilegítimas de produção do conhecimento, muito menos condená-las publicamente;

Considerando que, ainda que a nossa defesa da universidade pública e da ciência histórica seja irrestrita, ela não pode se confundir com ataques conservadores, LGBTQIA+fóbicos, de gênero, regional, de classe, raça, com “cancelamentos” ou desqualicação profissional/pessoal;

Considerando que a diversidade de corpos, metodologias, teorias, formas de produzir a história é fundamental para a transformação e o fortalecimento do conhecimento histórico, ainda predominantemente marcado pelo pensamento masculino, branco e cisheterossexual,

A ANPUH se fortalece ainda mais na defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. Combate qualquer movimento reacionário que tenta deslegitimar e enfraquecer os sólidos trabalhos de cientistas, de todas as áreas nas instituições públicas de ensino superior, marcadas por uma multiplicidade de corpos e práticas, utilizando-se de meios vis para a desestabilização de seu caráter público.

E pede aos seus associados, historiadores e historiadoras, que não sejam vítimas de seu tempo, caindo em armadilhas de ordem política, e estejam atentos diante da batalha de significados que está estabelecida em nome do gênero, raça, credo, classe, e da condução moral dos corpos, de modo a dar continuidade à luta por uma sociedade democrática, republicana e que defende o seu patrimônio público.