ANPUH-BRASIL FIRMA TERMO DE COOPERAÇÃO COM A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (CNV) 6b676j
A ANPUH-Brasil assinou, no último dia 25 de fevereiro, em Brasília, um Termo de Cooperação com a Comissão Nacional da Verdade (CNV).
O Termo de Cooperação tem por objetivo promover a mútua colaboração entre a CNV e a comunidade de historiadores brasileiros, para que estes possam auxiliar a Comissão na apuração e esclarecimentos das graves violações de direitos humanos praticadas no País no período de 1946-1985, especialmente aquelas ocorridas nos Estados brasileiros, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica.
O Termo permite ainda que os historiadores possam apresentar à CNV documentos, informes, bibliografias, resultados ou conclusões de pesquisas históricas, de modo a que esse material possa compor os dados dos 13 Grupos de Trabalhos da CNV, os quais serão, após o término dos trabalhos da Comissão, transferidos ao Arquivo Nacional ou arquivo público participante da rede que integra o Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil – Memórias Reveladas.
Estiveram no ato solene de do Termo, o Secretário-Geral da Anpuh, Angelo Priori, além dos membros da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, Rosa Maria Cardoso da Cunha e José Carlos Dias.
APRENDIZADO
Este novo desafio a que, com dedicação, lanço-me e se coloca nas ações e nos trabalhos apresentados como membro da Comissão Nacional da Verdade, traz-me importantes ensinamentos.
Compreendo, então, que a vida é aprendizado constante.
Costumo dizer que o professor é o perene artífice da esperança, porque é a esperança que nos afasta do imobilismo, do fechamento inerente ao racionalismo sistêmico, provocando-nos a ir além de nós mesmos e nos desatarmos do inexorável como da cronologia, para vivenciar a verdade de sempre.
Os céticos, é indubitável, não concordarão com o que venho de expor, mas é justamente na liberdade de discordar, ou de concordar, que está a razão de ser do magistério.
"Importa tudo ponderar para reter o que é bom", já disse alguém, algum dia.
Com esse ensinamento presente, por certo há que se perquirir: a História, que nos é ensinada, como analisa o período de 1964 a 1985? Fracciona-o no âmbito de fronteira nacional, ou insere-o em visão de mundo, que há de ser arrostada?
Tenho para mim – e perdoem-me historiadoras e historiadores para quem, essencialmente, escrevo – que o Estado ditatorial militar – e não digo "civil militar" porque a adesão civil é mesmo adesão, ditada pelos mais variados matizes do servilismo, e o que se faz, e é, servil, não comanda, não protagoniza – constitui-se em visão de mundo impactada em vários segmentos da sociedade civil, justamente porque esses segmentos, ausentes de conhecimento, ou manipulados em mascarado conhecimento, quedam seduzidos pela falsa idéia de segurança.
Portanto, há que se demonstrar que o Estado ditatorial militar é a ruptura, brutal e assassina, porque golpeia impiedosamente o conjunto de valores da Democracia: liberdade de expressão de crenças e idéias; respeito à divergência e convívio pacífico com a oposição; empenho cotidiano na formação de sociedade justa e fraterna na consecução do bem comum, que não se define como mera adição de bens individuais, mas sim como o conjunto de bens que, sendo de cada um, é também de todos, por isso que se definem como direitos humanos.
Desde a base até o grau universitário, creio deva ser essa a perspectiva de compromisso das professoras e dos professores de História.
Derradeira consideração sobre os arquivos.
Tinha-os como depósito do imprestável, cifrava-me no pleonástico: "arquivo morto".
Completa ignorância, de minha parte.
Arquivos são fonte inesgotável de produção de conhecimento, também o histórico. Como os museus, são espaços vivos de reconstrução da história de um povo. Povo sem história, porque sem memória, não é povo, é bando.
Arquivos e museus devem entrar em nosso cotidiano.
Nos meus tempos de estudante matriculado, nunca tive atividades escolares em arquivos e museus. Agora, que não sou mais estudante matriculado, mas estudante devotado, porque me empenho na pesquisa semanal no Arquivo Nacional, com entusiasmo adolescente, aventuro-me a atrevo-me a não cessar de conhecer, e para o quê?
"Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça."
Claudio Fonteles, integrante da Comissão Nacional da Verdade
|